terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Como revolucionar a sala de aula e a escola de seu filho: 1º capítulo

Estou escrevendo um e-book no WIDBOOK. Nestes meus quase 18 anos de sala de aula não foram poucas as vezes em que as mães vieram pedir ajuda. E também não são poucas as minhas inquietações. Por que é que a escola pública tem tanta dificuldade em se fazer melhor e qual o papel das mães nisso tudo é o que busco responder com a escrita desse livro. Não tenho a pretensão de ser a dona da verdade, mas sei que posso contribuir de algum modo para a melhoria desse espaço público. 

Compartilho agora o primeiro capítulo quentinho, que acabo de escrever:



É pouco provável que você confie seu carro a um mecânico que não saiba dirigir. No entanto, na escola, a maioria daqueles que ensinam não são mestres da matéria que ensinam. Quantos professores de Ciências são cientistas ou ao menos realizam projetos de pesquisa com seus alunos? Quantos professores de Língua Portuguesa escrevem livros, artigos, frequentam lançamentos de livros, escrevem resenhas ou participam de clube de leitura? Quantos professores de Artes fazem arte? Outro dia encontrei uma ex-aluna no metrô. Ela pediu uma sugestão de leitura. Não tive dúvidas, aconselhei que lesse o mais que pudesse sobre História. Revoluções Inglesa e Francesa, Idade Média, os gregos e os romanos, Revolução Industrial, a I e a II. História do Brasil. As Grandes Guerras Mundiais. Expliquei que esses saberes são fundamentais para entender o mundo em que vivemos. Disse-lhe que esses conhecimentos lhe seriam cobrados quando estivesse na faculdade. Ela me disse:
“Meu professor X era legal, mas não ensinava História. Ele só falava de sexualidade.”
Eu fiquei sem saber onde enfiar a cara.
            Você pode achar que estou exagerando, mas não estou. O nível de engajamento, de um profissional na área que atua sinaliza a sua excelência. Cada vez é maior o número de professores que aprendem o suficiente para passar num concurso, sabem muito pouco da disciplina, muitas vezes apenas o conteúdo a ser ensinado, ou nem isso. É como se fossem programados: repetem o que ouviram na graduação, imitam o que fez o professor com quem estagiou ou têm como modelo os professores que tiveram quando crianças. Chegam à escola com pouquíssimos saberes.
Não estou exagerando, repito. A Pedagogia está sendo ensinada online. Há quem vá para a faculdade duas ou três vezes por semana. Não se lê mais Paulo Freire, Durkheim, Piaget, Vigotski. As faculdades preparam apostilas, estuda-se apenas por elas. Pouco se aprende sobre como aprende a criança, como aprende o adulto, que métodos de ensino afinados com o modo como a criança aprende (criança é lúdica, aprende com música, com movimento do corpo, com narrativas).  Quais diferentes métodos de ensino da decodificação do código escrito, como formar leitores e não meros decodificadores (o leitor entende o que lê e faz relações do que está lendo com outro texto lido; o decodificador é capaz de ler uma página e não entender nada, é o chamado analfabeto funcional, produzidos às centenas pela escola, já que nela ninguém lê.)
            Sabe quantas vezes tentei cursar Gestão Escolar? Duas vezes. É um curso para quem já é licenciado, uma espécie de complemento. Estuda-se os conteúdos pedagógicos não vistos na Licenciatura. Este curso qualifica um professor de matemática a ser um coordenador, diretor ou supervisor de escola, por exemplo. Eu desisti. Não suportava as aulas. Eram muito pobres. Ocorriam uma vez por mês. O professor, geralmente free lance, discorre sobre um dos temas do currículo por duas horas. Depois reúne os alunos em grupos e pede uma redação sobre o tema. Assim eram as aulas. Quem procura esse curso está interessado no diploma (que implica em evolução funcional, ou seja, aumento salarial) e não necessariamente em saberes. A UNICID e o SENAC têm excelência, ensinam gestão. Já os demais... Eu desisti da complementação pedagógica, optei pelo Direito. Foi a melhor coisa que fiz, nunca aprendi tanto.

Descortino os bastidores do ensino, uma parte dele, para que você tenha ideia do que aguarda. Os professores não são más pessoas, falta-lhes orientação, um norte, uma liderança consciente. Eles precisam de ajuda. Da sua ajuda.

Pergunte à diretora e à coordenadora da escola de seu filho se a formação permanente dos professores é prioridade no trabalho delas. Espere pela resposta. Gestores atentos a essa questão têm metas claras, sabem qual tema serão estudados pelos professores, como serão trabalhados e como essa formação repercutirá na sala de aula. Por exemplo, como tema: racismo ou preconceito ou aprender a conviver; para quais professores ou para todos, em que horário e por quanto tempo (um bimestre, um semestre), quais materiais de estudo, se filmes, livros artigos, convite a um especialista do tema para vir à escola. Com os alunos: como abordar o tema: plenárias, leitura de paradidático, animação para os menores, roda de conversa. Como resultado do projeto: exposição, feira cultural, jornal escolar, intervenção na comunidade.
Tracei um esboço de um projeto de estudo em formação permanente. O que não falta são assuntos a serem aprofundados pela equipe docente: drogas, sexualidade, violência, ética, crise hídrica, tratamento de resíduos, métodos de aprendizagem eficientes,  ensinar a aprender a aprender, diversidade sexual, mercado de trabalho....

  Se a sua diretora gaguejar, se a sua coordenadora disser que ainda está vendo com a diretora e com a equipe de professores como se dará esta formação, desconfie. A formação permanente do professor é uma das atribuições do coordenador de escola. Foi par isso que este cargo foi crido. Não se trata de opção do diretor ou do coordenador, querer dar ou não esta formação. Educação é direito fundamental, previsto na Constituição Federal. Para que as crianças e jovens tenham educação de qualidade  é preciso que seus professores tenham formação de qualidade. Omitir-se, não oferecer esse direito aos professores é  motivo de denúncia no Ministério Público ou na Defensoria pública. 
É provável que elas não tenham um projeto de formação permanente para os seus professores. Não se deixe enrolar. Diga que voltará na próxima semana para ver o projeto escrito. Diga que virá com outras mães. Diga mais, que está pensando em fazer parte do Conselho de Escola. Revolucione a escola do seu filho.